04/05/2008

"Um Deus chamado Abba"


O excerto que se segue foi retirado de um livro de José Luis Cortés da editora estrelapolar, cujo título é também o título da nossa postagem.



"Muitas pessoas tiraram os seus cursos com bons resultados, ou simplesmente amadureceram e já sabem fazer contas em euros, mas mantêm a mesma imaginação de Deus que tinham quando fizeram a primeira comunhão (o próprio leitor ou leitora?). Algumas, se apertarmos com elas (se não, não), dirão mesmo: "Sou crente". Mas a verdade é que crêem em coisas que também se podem crer sobre a Disneylândia: que alguém teve de criar isto; que quem se porta mal é castigado; que tudo acontece porque alguém quer que assim seja...


Ninguém lhes disse, nem antes nem depois, que Deus dá para mais: que trabalhar a imagem de Deus é a melhor maneira de se fazerem elas mesmas pessoas, de se "realizarem", de deixarem para trás, juntamente com as imagens obsoletas de Deus, a sua auto-imagem infantil e pouco madura; que procurar Deus é, enfim, a melhor maneira de se encontrarem a si mesmas (...).


Não é de admirar que, com o passar do tempo, as pessoas prescindam de Deus se o Deus no qual dizem crer é como alguns o pintam: um Deus completamente antipático, repressor, exclusivista deste ou daquele grupo, um Deus que toda a vida foi de direita ("Deus cheira a direita", escreveu Manuel Vicent), protector dos privilégios dos privilegiados, eclesiástico até dizer chega, 100% espírito puro... "Não sou incrédulo - confessava Ernst Junger - mas uma pessoa que pede coisas dignas de que se creia nelas"."